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Crioterapia - entrevista para o Jornal Expresso

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    jmiv04
  • 8 de abr.
  • 3 min de leitura

Excerto da entrevista, publicada no Jornal Expresso de 04.04.2025)

Autor: João Diogo Correia (Jornalista).


Os banhos gelados vieram, aliás, do mundo do desporto. É comum que a seguir a provas de alta competição os atletas recorram ao frio para acelerar a recuperação dos músculos, expostos a cargas intensas durante largos períodos de tempo. Chama-se a isso “crioterapia”, técnica na qual Luís Lima, médico especialista em Medicina Física e de Reabilitação, tem larga experiência. “As técnicas mais conhecidas vão desde a simples aplicação de gelo local”, uma ideia que já todos tivemos “para diminuir uma inflamação” e que “ajuda também a diminuir a perceção de dor imediata, e particularmente a dor tardia”, “até aos banhos de imersão a temperaturas baixas”. E são precisamente esses banhos, e os atletas que os partilham, que estão na origem da explosão da moda da água fria.


Hulk é um dos mais assíduos nas partilhas e nos banhos, seguidos de sauna (já lá vamos). Aos 38 anos, o futebolista brasileiro que passou pelo FC Porto, pela Rússia e pela China

antes de regressar ao Brasil continua numa forma física impressionante, mesmo para os padrões de um atleta de alta competição, e não dispensa a banheira de imersão coberta de

gelo. Michael Phelps, ninguém menos que o nadador olímpico mais premiado da história, usava o banho gelado como parte da rotina de treino, e agora reformado criou uma empresa chamada Chilly Goats, virada para a promoção da prática (e da venda de

produtos), a que associa recuperação muscular, fortalecimento do sistema imunitário e “bem-estar”.


Especialista em Medicina Desportiva, Luís Lima conta que “a maioria dos estudos de crioterapia mede a imersão em água fria entre 7 e 15 graus, por períodos de 30 segundos até 2 horas, com água pelo menos até ao peito”, e confirma que “existe alguma evidência de benefício”, mesmo para quem não é atleta de alta competição. O médico enumera alguns, como “a redução de stresse”, “o potencial benefício da qualidade do sono (com menos despertares noturnos)” e a “redução do tempo de ausência do trabalho por doença” — Lima cita um estudo de 2016 com mais de três mil pessoas expostas a chuveiro de água fria por 30 a 90 segundos durante 30 dias.


O reforço do sistema imunitário “é mais difícil de medir”, avisa o especialista, que confirma, no entanto, que “se reduzirmos o stresse, teremos potencial benefício imunitário”. Além disso, “a exposição regular ao frio diminui a ativação dos recetores cutâneos”, as terminações nervosas que captam as sensações térmicas, o que torna “o frio menos desagradável”.


MAIS VANTAJOSO DO QUE ÁGUA FRIA? O EXERCÍCIO

De uma prática de recuperação física de atletas para uma meta de lifestyle próprio das celebridades passou-se entretanto à terceira fase, aquela em que cidadãos de todas as idades e tipos físicos começam a tomar banhos frios, em busca de uma rotina saudável que a evidência científica nem sempre comprova. Luís Lima cita um artigo da revista “Wired”, publicado em agosto do ano passado, em que uma repórter descreve a experiência de dois meses a tomar banhos gelados, enumerando benefícios em termos semelhantes aos de outras revistas generalistas, como “o aumento da noradrenalina e dopamina”, que por sua vez fizeram com que melhorasse a “saúde mental” e subisse “o estado de alerta”. Ao Expresso, o especialista valida esses aumentos, mas aponta que eles podem tratar-se “apenas de uma resposta à dor” e que, “de momento, não está comprovado que [o banho frio] tenha benefícios a longo prazo na saúde mental”.


Luís Lima repete alguns dos potenciais ganhos psicológicos e fisiológicos, como o efeito anti-inflamatório e analgésico, mas põe água na fervura e no entusiasmo, avisando para riscos como os provocados pelo choque térmico, as arritmias (risco maior “em pessoas com doença cardíaca” e que “parece ser superior se incluir a imersão da face”) ou o risco de afogamento, que é obviamente menor quando a imersão é feita numa banheira e

não num lago ou no mar.


Por isso, embora recomendando os banhos para recuperação muscular, o médico ouvido pelo Expresso pede que sejam, de facto, combinados com exercício físico. “Portugal é o campeão europeu da inatividade física, conforme mostra o último Eurobarómetro, portanto, seria muito mais benéfico substituir os 10-15 minutos de crioterapia pela prática de exercício nos indivíduos sedentários.”


Link para acesso a todo o artigo disponível aqui (acesso pago, para subscritores do Expresso).





 
 
 

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Se houvesse um comprimido que reunisse todos os benefícios do exercício seria o fármaco mais prescrito em todo o mundo.

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